Semeando Esperança


27/12/2011 – No trânsito
27/12/2011, 12:42 pm
Filed under: Semanal

A Bíblia nos diz que Deus possui uma sabedoria multiforme (Efésios 3:10) e, por este motivo, Ele fala de formas diversas. Em um arbusto em chamas (Êxodo 3:2-3), uma voz do alto (Marcos 1:11), dedos que escrevem na parede (Daniel 5:5), parábolas, pelos profetas e outras tantas mais. A verdade é que Deus está disposto a falar conosco na mesma proporção que estamos dispostos a ouvi-Lo, como vemos em Marcos 4:23. Se abrirmos os nossos olhos e ouvidos, Deus usa o que há ao nosso redor para falar conosco.

Eu fico cerca de 2-3 horas por dia no carro e, o que pode se tornar um veneno para a alma com o estresse devido ao trânsito, a irritação com o tempo perdido, sem mencionar o perigo de ficar parado nas ruas de uma cidade violenta como São Paulo, aos poucos se tornaram períodos de reflexão e leitura. Sempre levo uma cruzadinha na porta do carro e um livro à tira-colo. Uso este tempo para orar, ler e ter um momento de interação com Deus. E em um destes momentos foi que notei que a postura de muitos motoristas no trânsito são análogas com a postura dos fiéis em relação a Deus. Destaquei 6 características que sei que os leitores motoristas irão conhecer bem e tracei o paralelo com as posturas que podemos adotar em relação a Deus.

1) O que fica entre as faixas

Este é aquele motorista que fica parado entre as faixas, não deixando ninguém passar ou ir adiante. Não decide se fica em uma ou outra e, por isso, atrapalha outras pessoas no caminho. Esta situação nos faz lembrar do caso do profeta Elias quando afrontou os profetas de Baal em I Reis 18:21. Ele se virou para o povo e disse: “Até quando caminhareis entre dois caminhos? Ou siga a Deus ou siga a Baal”. O cristão entre as faixas é aquele que não consegue se decidir se segue a Deus por completo e, por este motivo, acaba não seguindo a ninguém. Da mesma forma que o motorista não está nem na faixa da direita nem na da esquerda, a pessoa não está na presença de Deus.

2) O que cumpre a lei e quer ser reconhecido

Este é aquele motorista que ao dar passagem para o pedestre ou para outro carro, fica esperando um agradecimento ou reconhecimento pela sua “atitude nobre”, quando na verdade não fez mais do que a sua obrigação. Em Lucas 18:11-14, vemos a parábola em que Jesus mostra o religioso orando em voz alta, dizendo seus muitos feitos e se exaltando por fazer o que tinha que ser feito. Este é aquele cristão que acha que tem o direito de cobrar Deus porque tem se portado de forma correta. Que não esqueçamos o que está escrito em Lucas 17:10: se fizemos apenas o que fomos ordenados a fazer, somos servos inúteis. Não há motivo porque se vangloriar pois apenas Ele é digno de receber a glória.

3) O que não olha a necessidade dos outros

Viver em uma cidade grande nos faz ficar um pouco insensíveis aos problemas alheios. Muitas vezes, fechamos nossas janelas e ignoramos as pessoas que passam e pedem ajuda. Acabamos nos escondendo atrás da nossa muralha de segurança e fazemos vista grossa para o sofrimento alheio. Recebemos uma “bronca” quando lemos a parábola do bom samaritano que é relatada em Lucas 10:30-37. Conta sobre um homem que foi espancado por ladrões e foi desprezado pelos religiosos e ministros da igreja, porém ajudado pelo samaritano, aquele que era visto com maus olhos pelos religiosos. Será que temos nos escondido atrás das nossas vestes de santidade e religiosidade e, desta forma, ignorando o povo que sofre? Se não nos movermos em compaixão, como Jesus se moveu, não seremos capazes de ver a obra de Deus sendo realizada através de nossas vidas.

4) O que pára quando chove

O trânsito piora muito com a chuva porque grande parte dos motoristas parece desaprender a dirigir quando chove. Reduzem a velocidade excessivamente, perdem a visibilidade e não conseguem manter a qualidade de direção com a mudança de cenário. Isto mostra um despreparo e falta de confiança por parte da pessoa. O mesmo vemos quando Pedro ia caminhando sobre o mar, mas quando começou a olhar ao seu redor (Mateus 14:30), acabou afundando. Isto remete ao texto de Marcos 4:18-19, em que durante a parábola do semeador, Jesus menciona a semente que é lançada entre os espinhos. Que floresce, mas pelas circunstâncias do mundo, deixa de crescer e dar frutos. Lembrando o que está escrito em Lucas 9:62 que “o que lança mão do arado e olha atrás, não é apto para o reino”. Temos que nos manter firmes para a nossa caminhada não dependa do que nos cerca, mas que ela dependa apenas da nossa fé em Deus. A vida e sacrifício de Cristo são justamente para que as chuvas da vida não impeçam o nosso avanço.

5) O que só freia quando há radar

De uns anos pra cá, os radares começaram a invadir as ruas das cidades, mais com o intuito de gerar dinheiro do que de fato controlar a velocidade dos motoristas. Afirmo isto porque os motoristas não começam a dirigir nos limites pois entendem a necessidade de respeitar as leis de trânsito como uma forma de manter a segurança, mas sim por medo de serem punidos. O conhecimento de locais em que há radar é usado para que a lei seja respeitada APENAS onde há a chance de ser punido. Vemos diversas pessoas que agem da mesma forma em relação a Deus, mantendo a postura correta apenas quando há testemunhas ou há chance de haver represálias. Tantas pessoas que possuem até cargo nas igrejas e andam com entre os bancos das igrejas com a cabeça erguida e cheios de orgulho, porém longe da vista dos irmãos, entregam-se às drogas, prostituição, vícios e desonra. Nós seguimos a um Deus que vê tudo e todos, não há sentido em tentar ocultar nossas ações. O objetivo dEle não é nos punir pelos erros (como o motorista tem que pagar multas), mas sim nos educar para que possamos viver de modo irrepreensível (I Timóteo 3:2) em todo o tempo. Só porque a pessoas faz a coisa certa, não quer dizer que ela está certa.

6) O que anda devagar, mas acelera quando alguém tenta ultrapassá-lo

Este é o motorista que geralmente anda devagar em alguma rua, segurando o trânsito. Porém, basta alguém tentar ultrapassar que ele pisa no acelerador e impede que o outro motorista passe a frente. Em alguns casos, pode até gerar um acidente por este capricho. Crente mesquinho, que acha que o ministério, cargos na igreja são seus. Em alguns casos, até a igreja e o lugar de sentar acaba entrando nessa idéia de posse. Durante nossa caminhada com Deus, certamente veremos pessoas que crescem mais rápido, que recebem respostas com mais agilidade e pessoas que são mais usadas por Deus. Cabe a nós entender que vivemos para a glória de Deus e que, mais importante que nossas posição ou status na igreja, é uma vida em concordância com a vontade dEle.

Tenho certeza que em algum momento da nossa vida como motorista, agimos como um destes perfis acima. Da mesma forma, talvez na nossa caminhada com Deus também tenhamos adotado estas características. Da mesma forma como a experiência e vivência nos faz sermos motoristas mais cuidadosos e melhores, apenas a intimidade e a vivência com Deus nos fará sermos cristãos melhores.



12/12/2011 – Sacrifício de tolo
12/12/2011, 2:53 pm
Filed under: Semanal

Uma das maiores barreiras que existem hoje para igreja cristã é a de quebrar o estigma de “exploradora” no âmbito financeiro. As pregações e apelos contínuos de ofertas e contribuições, aliada às promessas de recompensas proporcionais ao valor ofertado fazem com que as pessoas de fora não queiram conhecer as igrejas e as que estão dentro se sintam presos, coagidos ou até impelidos a saírem / abandonarem a fé.

Nas ocasiões em que ofertas e dízimos são mencionados na Bíblia, o propósito principal desta reunião de valores é para o sustento da casa e da obra de Deus – como está escrito na passagem de Malaquias 3:10, “trazei os dízimos e ofertas para que haja mantimento na casa de Deus”. Tanto isso é verdade que em Êxodo 36:6, Moisés diz para o povo parar de trazer ofertas, pois já era bastante o que havia sido ofertado. Eu acredito que a pessoa que acredita em Cristo e na obra de Deus na Terra, se compromete totalmente, inclusive com os recursos financeiros. Não para “enriquecer pastores”, mas para que as contas sejam pagas, projetos sociais financiados e para sustento dos que abriram mão das carreiras seculares para trabalharam integralmente na obra. Não se trata do valor absoluto, mas sim do compromisso que você demonstra ao contribuir.

Infelizmente, com os inúmeros escândalos ocorridos e os abusos dos auto-intitulados líderes espirituais, o fiel tem se sentido reticente ao ofertar e dizimar. A atuação de um grupo de gananciosos tem feito com que os cristãos fujam da obediência à palavra de Deus. Como está escrito em Tito 1:11 – “homens que transtornam casas inteiras ensinando o que não convém, por torpe ganância”. Estes “pastores” ainda coagem os seguidores a ofertar, ameaçando que sem as contribuições, eles não receberão as bençãos de Deus e, ainda pior, que estarão sujeitos às maldições e ataques do inimigo. Vociferam dos seus púlpitos ao usarem seus ternos de 10,000 reais que “se você não sacrificar, não terá o melhor de Deus” e depois partem em seus jatinhos particulares. São as pessoas que convenientemente esquecem a palavra de Deus, como vemos em Mateus 12:7 que diz que “se vós soubésseis o que significa: misericórdia quero e não sacrifício, não condenaríeis os inocentes” e também em Lucas 12:15, “acautelai-vos e guardai-vos da ganância; porque a vida de qualquer não consiste na abundância do que possui.”

Em Êxodo 35:21, vemos que as ofertas trazidas pelo povo eram sempre com o coração voluntário. Em II Coríntios 9:7, Paulo diz que devemos contribuir conforme segundo o nosso coração. Portanto, este tipo de oferta de sacrifício com valor estipulado, assumido por apelo emotivo ou feito forçosamente, sem que haja um coração voluntário, ou que é feito visando recompensa e/ou status é o chamado sacrifício de tolo. Não devemos acreditar que nosso dinheiro irá de alguma forma nos comprar favorecimento com Deus, da mesma forma que tem comprado com os homens. Em Atos 8:18-24, vemos relatada a história de Simão que tentou comprar de Pedro os donos de imposição de mãos. Pedro responde em duas partes, a primeira no versículo 20, “o teu dinheiro seja contigo para perdição, pois cuidaste que o dom de Deus se alcança por dinheiro” e depois no versículo 22, “arrepende-te, pois, dessa tua iniqüidade, e ora a Deus, para que porventura te seja perdoado o pensamento do teu coração”.

Sejam os líderes ou os liderados que possuem este comportamento descrito acima, se encaixam no perfil de pessoa que está descrita em Romanos 2:24: “o nome de Deus é blasfemado entre os gentios por causa de vós”. Que tenhamos em nossa mente a convicção de que, enquanto as ofertas e dízimo fazem parte do compromisso e da vida cristã, o sacrifício que Deus exige de nós são os espirituais (I Pedro 2:5) e que Ele busca um coração contrito e espírito disposto (Salmo 51:17). Como vemos em Joel 2:13, “não rasguem suas vestes (ou seus bolsos), rasgue os seus corações.”

Deus não nos olha através de cifras e valores, portanto não devemos achar que o oposto deve ser feito. Se você procura um investimento com retorno financeiro garantido, você não está buscando a Deus.